Oi Futuro fecha segundo ciclo do projeto Poesia Visual com Luciano Figueiredo


  • A partir de 17 de setembro, vitrine do centro cultural em Ipanema será ocupada pela fotomontagem "Fabri Fabulosi", em homenagem aos mestres do construtivismo
  • Fragmentos de diálogos de clássicos do cinema sobre a superfície ampliada de jornais formam as obras de  "IMAGEM/LEGENDA: um cine-romance", na galeria do térreo

A partir de 17 de setembro, o artista, designer gráfico e cenógrafo Luciano Figueiredo, responsável pelo projeto gráfico da revista Navilouca, editada pelos poetas Torquato Neto e Waly Salomão, nos anos 1970, fecha o segundo ciclo do projeto Poesia Visual, com curadoria de Alberto Saraiva. Único no Brasil voltado para o gênero, o projeto receberá a fotomontagem "Fabri Fabulosi", homenagem a mestres do construtivismo e da abstração, como Piet Mondrian, Kurt Schwitters, Malevitch, e Michel Seuphor, na vitrine do centro cultural em Ipanema. Batizada pelo poeta Antônio Cícero, o título desta parte da mostra quer dizer "inventores fabulosos".  

"O projeto Poesia Visual chega ao fim do seu segundo ciclo com a poética de Luciano Figueiredo extraída de sua experiência como colecionador de diálogos de cinema há décadas", conta Roberto Guimarães, diretor de Cultura do Oi Futuro. "Temos muito orgulho pela diferença que o Poesia Visual vem fazendo na cidade, trazendo reflexão, gerando textos teóricos feitos especialmente para a instituição e mostrando trabalhos de artistas de todas as gerações, facilitando o diálogo entre correntes estéticas variadas", conclui.

Na galeria do térreo do centro cultural de Ipanema, Figueiredo apresenta a segunda parte da mostra, "IMAGEM/LEGENDA: um cine-romance", que traz fragmentos de diálogos tirados de clássicos do cinema sobre painéis com imagens recortadas de detalhes de fotos de jornal em preto e branco. Uma vez ampliados, esses detalhes se transformaram em grandes pixels que revelam o mesmo jogo de luz e sombra que forma a imagem cinematográfica.

Os textos sobrepostos vieram da vasta coleção de diálogos anotados por Luciano Figueiredo por décadas. "De tanto colecionar esses textos e extratos de falas, comecei a perceber que tais frases soltas e isoladas das imagens e dos sons dos filmes passavam a funcionar de maneira autônoma e a se relacionar umas com as outras, também", observa o artista.

Na exposição, os painéis estão dispostos em diferentes planos em relação à parede, para simular uma experiência cinética. Para o conteúdo, o artista usou diálogos nem sempre lembrados de filmes como "Julia", de Fred Zimmerman, "Crepúsculo dos Deuses" de Billy Wilder, "A Mulher na Janela" de Fritz Lang, "Johnny Guitar" de Nicholas Ray , "Macbeth" e "A Marca da Maldade", ambos de Orson Welles.

"Estes poemas que apresentamos aqui, alguns dos anos 1980 e outros, em sua maioria, inéditos, indicam claramente o projeto que o artista se impôs: o que eu chamo de 'poema-cinema'", conceitua o curador de Artes Visuais do Oi Futuro. "Luciano Figueiredo faz parte de um momento-chave da contracultura no Brasil, em que nomes como Wally Salomão, Torquato Neto e Oscar Ramos e ele, protagonizaram o 'poema-total', extrapolando a poesia no papel para integrá-la a capas de discos e cenários de shows, criando verdadeiros 'poemas espaciais'", lembra o curador, refazendo o trajeto de um grupo de artistas que mudou o cenário da poesia visual no país. 

"O passo seguinte são estes 'poemas fílmicos', que nascem de uma reverência a essa forma de arte, o que era comum a todos esses artistas, somando-se a eles, Neville D'Almeida, Hélio Oiticica e Caetano Veloso, que realizou o 'Cinema Falado'. O cinema-poema flui nestes recortes de falas apresentados por Luciano Figueiredo, que condensam dezenas de tremores humanos, formando um novo drama, com começo, meio e fim, e ao mesmo tempo, aberto a livres relações", define Alberto Saraiva.

"Fabri Fabulosi" e "IMAGEM/LEGENDA: um cine-romance" em detalhes

Em "Fabri Fabulosi", serão plotados, ao lado da vitrine, o fragmento de um texto sobre o abstracionismo do pintor Wassily Kandinsky, verbetes para cada construtivista retratado na obra, e um diagrama que exibe a evolução das vanguardas da arte moderna.  "Esse diagrama foi extraído do livro de 1950, 'L'Ars Abstrat' ('A Arte Abstrata'), de Michel Seuphor, que foi de onde tirei a ideia de fazer essa exposição, e escolhi reproduzi-lo porque é o mais perfeito esquema histórico para entendermos esses movimentos", explica Luciano Figueiredo. "Há uma dimensão didática nesta mostra, além da homenagem que quero prestar a esses homens e mulheres de gênio. Meu desejo é que eles continuem sendo estudados e avaliados porque a herança que recebemos deles levou ao atual estado da arte contemporânea", define o artista.

Figueiredo diz que "Fabri Fabulosi" é uma exposição impulsionada, tanto por sua admiração pessoal pelos ícones do construtivismo, quanto pelo desejo de levar o conhecimento sobre a herança de suas grandes invenções artísticas, arquitetônicas e de design, ao público contemporâneo. "Esse público tem sido bombardeado por colagens e imagens que foram criadas por esses pioneiros. Demorou muito tempo para a Europa reconhecê-los. Malevitch e Schwitters só foram ganhar mostra na Europa nos anos 1980, por exemplo, e por conta da Segunda Guerra Mundial, a difusão da obra dos artistas desse movimento ficou muito prejudicada", explica.

Já sobre "IMAGEM/LEGENDA: um cine-romance", o artista declara que "essa forma de imagem-diálogo", em seus termos, tem origem, nos hábitos dos anos 1950 e 1960, quando, após assistir a filmes, o público podia ler em revistas especializadas, seus diálogos em montagens dos fotogramas. Na época, eram muito populares as revistas com filmes quadrinizados: "Cine Romance", "Foto Romance", "Grande Hotel", "Cinemin". Alguns exemplares traziam filmes inteiros adaptados em fotogramas.

Biografia de Luciano Figueiredo

Luciano Henrique Pereira de Figueiredo (Fortaleza CE 1948). Artista intermídia, designer gráfico, cenógrafo e pintor. Inicia a vida profissional nos anos 1960 como cenógrafo, em Salvador. Em 1967, participa da 9ª Bienal Internacional de São Paulo. Transfere-se para o Rio de Janeiro em 1969, e passa a criar cenografias para shows musicais e peças de teatro e a desenvolver projetos gráficos para discos, livros e revistas, entre elas, aNavilouca, editada pelos poetas Torquato Neto (1944 - 1972) e Waly Salomão (1944 - 2003). Entre 1972 e 1978, vive em Londres, onde estuda história da arte e literatura inglesa, interessa-se pelas possibilidades visuais da página impressa de jornal e, com base em pesquisas, desenvolve pinturas e objetos tridimensionais com colagens, malhas de arames e relevos monocromáticos. De volta ao Brasil, no fim da década de 1970 e início da seguinte, trabalha como diretor de arte em filmes do cineasta Júlio Bressane (1946). Entre 1981 e 1995, atua como diretor técnico do Projeto Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro, e, em 1994, é responsável pelas salas especiais Hélio Oiticica e Lygia Clark na 22ª Bienal Internacional de São Paulo. É nomeado diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas da Fundação Nacional de Arte - Funarte em 1986 e funda o Instituto Nacional de Artes Gráficas no mesmo órgão, dois anos depois. Paralelamente, realiza diversas exposições de pinturas e objetos em galerias do Rio de Janeiro e São Paulo.

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