Documentário ‘Trans’ mostra a trajetória, as dúvidas, os medos e a coragem de ser transgênero no Brasil


 

Joana era psicóloga, João não tem diploma. Joana se formou em Psicologia, foi professora em três universidades, teve consultório e fez mestrado. Como sempre teve que desempenhar funções que não precisavam de diploma, João foi motorista de táxi, pintor, pedreiro, tradutor, cortador de confecção, vendedor de joias e de roupas e massagista de shiatsu. Joana e João são a mesma pessoa, em diferentes momentos da vida. Autor do livro 'Viagem Solitária – Memórias de um Transexual 30 anos depois', João W. Nery nasceu oficialmente quando Joana já tinha 27 anos. Foi nessa idade que João tirou os seus primeiros documentos oficiais, como homem. Nasceu com corpo de mulher, mas desde muito cedo, aos três ou quatro anos, percebeu que se identificava mais com o gênero masculino. É exatamente sobre a vida de transgêneros no Brasil que trata o documentário 'Trans', que a GloboNews exibe no próximo sábado, dia 16, às 21h. A produção mergulha na história de João e de outras três pessoas que mudaram de sexo ou que ainda não se definiram para mostrar como se sente e como é a vida de quem nasce com um corpo que não corresponde ao que se é.

 

É o caso também da advogada e professora de Direito Giowana Cambrone, que se assumiu mulher há seis anos, quando as mortes da avó e da tia a fizeram entender que não podia mais esperar para ser feliz. "O processo foi muito rápido, toda a transformação aconteceu em seis meses. Foi libertador", conta. Desde a infância, ela se identificava mais com as brincadeiras das meninas, nunca gostou de futebol ou de jogos de luta e de violência; gostava de usar as maquiagens da mãe e as roupas e sapatos da avó, quando estava sozinha em casa.

 

Mineira, Giowana veio morar no Rio de Janeiro quando um carioca a pediu em casamento. O relacionamento durou três anos e ela enfrentou grandes dificuldades: "A maioria dos homens que se relaciona com uma pessoa trans, se relaciona de forma esporádica e sexual. Se baseia no fetiche, no sexo, no desejo, que beira a objetificação. A pessoa vira um objeto para satisfazer um desejo. E não pensem que com a cirurgia essa questão se modifica: o homem, muitas vezes, coloca um obstáculo para construir uma relação com uma mulher trans. Se antes da cirurgia ele diz "você é linda, maravilhosa, inteligente, divertida, mas é trans e não tem vagina", depois da cirurgia de readequação, ele diz "você é linda, maravilhosa, inteligente, divertida, mas não tem útero e não pode me dar um filho. Sempre haverá um mas...", conclui a advogada, que hoje não alimenta mais expectativas e vai levando a vida sem maiores sonhos ou pretensões, com um único objetivo, o de ser feliz.

 

Diferente de João e de Giowana, Wallace Rui não se define como homem ou como mulher desde 2010. Aos 30 anos, a atriz, produtora cultural, performer e mulher transgênera explica: "Não sou nem 100% homem, nem 100% mulher, transito nos dois universos ou em nenhum." Wallace nasceu homem, continua usando seu nome de registro, mas sempre se identificou com o gênero feminino. "Em 2010, eu comecei a dar nomes. Eu sou transgênera não binária. Eu sou mulher, sou Wallace e isso basta", diz bem resolvida. Porém, em uma sociedade que ainda não lida bem com o gênero, nem tudo são flores. "Enquanto pessoa transgênera, eu sou tida como um corpo abjeto, ou seja, sou marginalizado por uma condição humana. A identidade de gênero é a maneira como você performa esse gênero exteriormente, ou seja, é como você se entende e como você se apresenta para o mundo." Ela assume que a violência física é o que mais assusta a ela e a sua família. "O grande receio da minha mãe é que eu seja vítima de violência física, porque moral sempre sou. Seu grande medo é ver a minha morte ser noticiada, assassinada de maneira muito bruta. Porque a expectativa de vida de uma mulher trans hoje é de apenas 35 anos. Eu teria apenas cinco ainda pela frente. É grave, as pessoas são assassinadas e não se noticia. É uma realidade cruel, mas não há preço que se pague, não há valor que mensure de ser quem se é", conclui.

 

O quarto e último personagem do documentário é o jovem Luan. Aos 16 anos, ele está vivendo há pouco tempo os desafios de mudar de gênero. Nasceu Luana, mas sempre se sentiu mais à vontade no universo dos meninos. "Não conseguia explicar o que sentia, mas sempre soube que alguma coisa estava errada. "Com quatro anos, usava a cueca do meu primo para jogar futebol. Não usava vestido, saia, sapatilha e, até a quarta-série, só calçava chuteira", explica. Já se apaixonou algumas vezes, sempre por meninas. Há quatro anos, conseguiu assumir para si mesmo que não gostava de ser menina. "Só precisei dar um nome ao meu sentimento, cortar o cabelo e mudar meu nome social quando a ficha caiu e eu me dei conta de que sou um transgênero", conclui. Luan sabe que seu caminho está só começando, mas não se sente mais em transição. Ele ainda não começou a tomar hormônio, não fez nenhuma cirurgia, mas assegura que as mudanças que faltam acontecer são só físicas. "Dentro de mim, já está tudo resolvido há muito tempo. Agora também já está firmado para as pessoas que importam para mim", explica. "Não vejo a hora de a voz engrossar e de fazer a barba", conta ansioso.

 

O documentário 'Trans' vai ao ar no sábado, dia 16, às 21h, na GloboNews.




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