Para celebrar as seis décadas da Bossa Nova, considerada um dos movimentos mais influentes da história da música popular brasileira, a TV Brasil apresenta nesta terça (10), às 22h15, o documentário inédito "Bossa Nova - 60 anos". A produção realizada pela equipe da própria emissora pública resgata a história desse estilo cuja referência inicial é a gravação de "Chega de Saudade" por João Gilberto no Rio de Janeiro, exatamente em 10 de julho de 1958, data que se convencionou como marco para o gênero. Ao combinar depoimentos, trilha sonora com obras clássicas e imagens da época, o especial faz uma homenagem ao legado deixado pelos mestres João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes bem como a todos os músicos, compositores, cantores e cantoras desse ritmo cativante. Com 27 minutos, a produção da TV Brasil traz entrevistas com personalidades que vivenciaram aquela fase como João Donato, Roberto Menescal, Marcos Valle, Carlos Lyra, Paulo Jobim, Leny Andrade e Joyce Moreno, além de pesquisadores como o jornalista Ruy Castro e o crítico Paulo da Costa e Silva. O documentário "Bossa Nova - 60 anos" traça um panorama sobre os anos que marcaram o surgimento e o apogeu do movimento estético, além de uma viagem através das lembranças de alguns dos músicos mais importantes do período. Além das saborosas histórias que ilustram os anos dourados da bossa nova, o especial destaca os elementos musicais característicos concebidos por gênios como Tom Jobim e João Gilberto e as letras de Vinícius de Moraes. O repertório reúne composições identificadas com a bossa nova que são parâmetros para as antigas e as novas gerações. Entre um depoimento e uma lembrança de situações daquele tempo, os convidados tocam e cantam sucessos como "Chega de Saudade", "Ela é carioca", "Garota de Ipanema", "O Barquinho", "Desafinado", "Se todos fossem iguais a você" e "Samba de uma nota só", entre outros. Depoimentos sobre João Gilberto e o início do movimento Ícones do cancioneiro nacional e especialistas na história da música popular brasileira concederam entrevistas para o documentário "Bossa Nova - 60 anos". O especial da TV Brasil revela o que pensam os talentos da música nacional sobre aquela iniciativa que reverbera até hoje tanto na produção cultural do país como no exterior. O filme abre com cenas da orla do Rio de Janeiro ao som da cantora Joyce Moreno fazendo um solo do clássico "Ela é Carioca" ao violão que destaca a importância de João Gilberto ao encontrar um tom sincopado que caracteriza a som da bossa nova. O jornalista Ruy Castro contextualiza o advento do gênero. "A bossa nova fazia parte de um momento geral de renovação de estruturas na cultura brasileira, não apenas na música popular. Ela se inseria num processo de simplificação, de tirar as arestas e fazer uma produção mais limpa", explica o pesquisador. O experiente cantor e compositor Roberto Menescal comenta sobre esse marco. "Você sai do samba-choro, aquele primeiro samba, e entra em uma outra levada. 'Chega de Saudade' é o ponto que explica isso: a diferença do antes para o depois", analisa o músico de 80 anos. Durante a produção da emissora pública, Carlos Lyra ressalta a importância dessa inovação do João Gilberto. "Esse jeito dele tocar foi o que passou para nós. Começamos a tocar daquela maneira, mas cada um do seu modo", lembra. Para Ruy Castro, o músico que está com 87 anos e hoje vive recluso no Rio de Janeiro estabeleceu novos paradigmas. "João Gilberto pode ser considerado o sintetizados de todos os pequenos avanços, progressos e achados que uma geração inteira de músicos estavam experimentando desde dez anos antes dele. Tudo convergiu para ele, pois ele tinha essa cultura musical extraordinária". O crítico Paulo da Costa e Silva é enfático. "Voz e violão em João Gilberto é um organismo único. Essa dinâmica para a caracterizar seu trabalho com grandes arranjadores", pontua o especialista. Diferenciais na opinião de quem faz Os músicos que participam do documentário "Bossa Nova - 60 anos" explicam algumas características do movimento. De acordo com o músico Marcos Valle, "o silêncio é muito importante na bossa nova". Joyce Moreno aponta a suavidade do gênero. "O grande lance da bossa nova é a leveza". Para o experiente João Donato, esse tipo de som conseguiu fãs no país e no exterior. "A bossa nova não abaca nunca. É um estilo de música que veio e agradou ao mundo inteiro. Marcos Valle ratifica essa ideia: "a bossa nova teve esse trunfo de conquistar públicos novos". Carlos Lyra conta que não existia uma expectativa na época sobre o que viria depois. "Nós nunca tivemos ideia do futuro. Era sempre o presente. O que a bossa nova era agora. O que aconteceu com ela aconteceu porque tinha que acontecer. Não porque alguém previu". Com 75 anos, a cantora Leny Andrade compara o gênero com outras referências internacionais ao destacar seu reconhecimento por parte de artistas estrangeiros. "Você não encontra um músico frances, alemão ou americano, um arranjador, que diga que há algo melhor que a bossa nova no mundo", avalia. Genialidade de Tom Jobim Os entrevistados da TV Brasil também falam sobre a contribuição de Tom Jobim. "Como grande músico, ele soube pegar aquilo tudo e fazer uma partitura de enorme complexidade. Ao mesmo tempo, quando você ouve, não percebe essa dificuldade, você pensa que está ouvindo uma coisa simples e fácil de fazer", argumento Ruy Castro. Ao piano, o músico Marcos Valle demonstra as harmonias de Tom Jobim. "São umas mudanças inusitadas de harmonia com balanço", conta o artista ao interpretar trechos de obras do maestro e professor que fez escola na música brasileira. Para o crítico Paulo da Costa e Silva, o pianista e compositor se diferencia desde sua formação. "O Jobim enriquece harmonicamente a música popular brasileira ao trazer uma série de acordes novos que não são enfeites, mas estão intimamente ligados a maneira dele compor. Essa riqueza propicia que ele faça melodias muitas vezes concentradas em uma única nota". O reconhecimento dos amigos é genuíno. "Tom Jobim é um clássico moderno. Eu não sei se as pessoas se dão conta do tamanho e da importância desse homem na cultura brasileira. É essa figura que o mundo inteiro respeita e cultua", afirma Joyce Moreno. "É o cara mais executado no mundo até hoje se você considerar toda a obra", diz Roberto Menescal. Essa variedade do repertório de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim inspira artistas até hoje. "Eu não faço um show na minha vida, acho que nenhum músico nacional dessa área, faz um show sem música do Tom", opina Leny Andrade. Poesia de Vinícius de Moraes Paulo da Costa e Silva aborda a contribuição de Vinícius de Moraes para a bossa nova. "Ele é a terceira peça. O Tom Jobim abre o espaço harmônico. O João Gilberto reorganiza o ritmo de uma música já saturada. O terceiro elemento, Vinicius de Moraes, explora a forma de fazer um discurso sentimental aproveitando a nova complexidade das melodias". Joyce Moreno compartilha dessa opinião. "Quando Vinícius começa a escrever letra de música, ele já era um poeta, um nome na literatura brasileira", recorda. "Ele tinha uma paixão pela música popular e cria essa ponte na palavra das mesma forma que Tom tinha criado na música. Por isso que é uma parceria tão perfeita essa deles", salienta a cantora.. O jornalista Ruy Castro também destaca o papel do poetinha nesse contexto. "Ele se tornou já a partir do final dos anos 1940, um dos quatro ou cinco maiores poetas brasileiros. Sempre interessado em música popular, Vinicius gostava de tocar violão, cantar, aprender as músicas e participar de saraus". Autor de obras sobre o assunto, Ruy Castro continua o raciocínio. "Vinícius trouxe para a letra da música brasileira uma visão mais moderna e uma maneira original de encarar os temas. Ele se destava com qual qualidade poética que só havia esporadicamente". De acordo com Paulo da Costa e Silva, Vinicius de Moraes apresenta novos rumos para as composições. "Ele amplia o leque de transições emocionais nas letras da música popular brasileira. A bossa nova ao invés de falar do fracasso amoroso o tempo todo, ela trata da possibilidade de uma coisa nova nascer. No término do especial produzido pela TV Brasil para celebrar a bossa nova, Ruy Castro resgata uma frase de sua própria autoria sobre o movimento. "Todas as vezes que o Tom Jobim abria o piano, todas as vezes, o mundo melhorou graças à bossa nova". Ficha Técnica Direção: Felipe Careli Roteiro: Pedro Schprejer Produção: Bia Aparecida e Socorro Cardoso Pós-produção: Poliana Guimarães e Andrea Palma Edição e finalização: Marco Machado Duração: 27 min. Classificação indicativa: Livre. Serviço "Bossa Nova - 60 anos" Estreia dia 10 de julho (terça-feira), às 22h15, na TV Brasil |
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