Escritor e quadrinista Lourenço Mutarelli reflete sobre as relações entre a loucura e a literatura
Em episódio inédito da série Super Libris, do SescTV, o autor defende que as palavras também têm efeito terapêutico. Dia 13/8, segunda-feira, às 21h
Lourenço Mutarelli. Foto: Piu Dip.
A loucura é um distúrbio mental que afasta o indivíduo de sua capacidade de agir racionalmente e altera a constituição da realidade por ele percebida. Mas não só medicamentos podem tratá-la. Segundo o escritor, dramaturgo, ator e quadrinista Lourenço Mutarelli, outra via de tratamento para a loucura é a literatura. Relacionando uma com a outra, o autor do romance O Cheiro do Ralo é entrevistado no episódio Loucura e Literatura, da série Super Libris. Dirigida pelo cineasta José Roberto Torero, a produção é exibida pelo SescTV no dia 13/8, segunda-feira, às 21h. (Assista também em sesctv.org.br/aovivo).
Mutarelli nasceu em 1964, em São Paulo. Já publicou dezenas de histórias em quadrinhos, pelas quais foi premiado algumas vezes, e oito romances, além de ter atuado em diversos filmes. Durante 20 anos, tomou medicamentos alopáticos para depressão e síndrome do pânico. Recentemente, trocou por fitoterápicos e álcool, os quais ele revela terem mudado sua vida e sua forma de escrever. "O álcool me deixa muito mais sociável, enquanto os remédios me deixavam introvertido".
O uso dos medicamentos tornou, para ele, o desenho e a escrita menos importantes. Ele decidiu dar um tempo, ficou quatro anos sem escrever, "e sem sentir falta", ressalta. Há pouco tempo, porém, retomou a escrita, porque ela o ajuda no tratamento de seus distúrbios psiquiátricos. "A literatura é uma forma de exorcizar um pouco da loucura. A loucura é uma coisa muito triste, quando está perto. E meu trabalho sempre foi meu tratamento. Eu saio melhor a cada livro", garante.
Mutarelli conta que, quando está escrevendo, é tomado por uma espécie de surto, que altera sua realidade. "A minha sorte é que eu transito muito rápido pelo estágio da escrita", diz. Para ele, a palavra ajuda no tratamento porque ela organiza e aprofunda o pensamento. "Eu percebi que não consigo pensar mais profundamente do que quando eu escrevo. É uma coisa que me acalma muito".
O autor declara que seria interessante conectar eletrodos a nosso cérebro para perceber em qual região ele se ilumina quando nos concentramos. Para atingir esse foco, ele afirma que procura momentos de êxtase enquanto escreve. "Quando o personagem diz um diálogo, ou você constrói um momento, uma coisinha... é o riscar o fósforo, ou a ejaculação", compara e acrescenta que o que segue daí é um vazio absurdo. "Eu tenho aquilo, ok, é legal; mas é um grão de areia numa muralha. Eu quero mais", diz.
Mutarelli narra um episódio em que sua concentração era tanta que não percebeu que a arma que seu irmão, policial, limpava disparara uma bala rente a seu corpo. Ele também conta que fez uma cena de filme com 600 baratas, insetos dos quais sente pavor, e, de tanta harmonia entre ele e elas, o autor as trouxe para perto de si, serenamente. "Esse estado é um ponto que te centra. Tem a ver com a loucura, com a hiperexcitação do cérebro, com conexões isoladas. Talvez a felicidade, mesmo, venha disso: de pensar em uma coisa só. É como a paixão: uma ideia fixa".
Além da entrevista principal, Lourenço Mutarelli participa de outros quadros no episódio Loucura e Literatura. Em Pé de Página, ele mostra o local onde trabalha, que ele chama de 'jaula'; além disso, conta como se disciplina para escrever e explica que escreve porque precisa. No quadro Primeira Impressão, Mutarelli sugere a leitura de Café da Manhã dos Campeões, de Kurt Vonnegut.
O quadro Orelhas ainda apresenta uma biografia do escritor carioca Lima Barreto, que se relacionou com a loucura ao longo da vida. Em Prefácio, a pedagoga Sandra Medrano indica o livro Ismália, de Alphonsus de Guimarães. No Quarta Capa, a youtuber Denise Mercedes comenta o livro O Grifo de Abdera, do próprio Lourenço Mutarelli. E, por fim, em Epígrafe, quadro novo da segunda temporada da série Super Libris, Marçal Aquino conta como adaptou o livro O Cheiro do Ralo, de Mutarelli, para o cinema.
Sobre a série Super Libris:
Com o objetivo de mergulhar no mundo da literatura, a série é formada por 52 episódios em sua primeira temporada e 26, na segunda, todos com 26 minutos de duração, que traz entrevistas com escritores e apresenta curiosidades presentes no processo de criação de livros. Em sua primeira temporada, foram entrevistados, com exclusividade, autores como Ruy Castro, Luis Fernando Verissimo, Ruth Rocha, Ferréz, Antonio Prata, Thalita Rebouças e Xico Sá. Os novos episódios trazem Bernardo Ajzenberg, Marcelo Rubens Paiva, Chico Buarque, Pepetela, Ana Maria Machado, Paulo Lins, Cintia Moscovich, João Paulo Cuenca, Ângela Lago, que morreu em outubro de 2017, entre outros.
Sobre o SescTV:
SescTV é um canal de difusão cultural do Sesc em São Paulo, distribuído gratuitamente, que tem como missão ampliar a ação do Sesc para todo o Brasil. Sua grade de programação é permeada por espetáculos, documentários, filmes e entrevistas. As atrações apresentam shows gravados ao vivo com artistas da música e da dança. Documentários sobre artes visuais, teatro e sociedade abordam nomes, fatos e ideias da cultura brasileira. Ciclos temáticos de filmes e programas de entrevistas sobre literatura, cinema e outras artes também estão presentes na programação.
SERVIÇO:
Super Libris
Loucura e Literatura
Estreia: 13/8, segunda, às 21h
Reapresentações: 14/8, terça, às 9h e às 17h; 15/8, quarta, às 13h30; 17/8, sexta, às 9h30 e 17h30; 19/8, domingo, às 6h; e 20/8, segunda, às 16h.
Classificação indicativa: 12 anos
Direção Geral: José Roberto Torero
Produção: Padaria de Textos
Duração: 28'
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