DISCOVERY EXIBE OBRA QUE DOCUMENTA AS ENTRANHAS DA GUERRA DO TRÁFICO NO RIO DE JANEIRO
Documentário mostra as redes de influência que perduram em favelas da cidade por meio de acesso sem precedentes aos bastidores do tráfico
Comunidades regidas por lideranças que se entrelaçam, dificultando a distinção dos limites entre a lei e o poder paralelo: essa é a realidade mostrada por DANÇA COM O DIABO (DANCING WITH THE DEVIL, 2009), versão para a TV do documentário homônimo que o Discovery Channel exibe com exclusividade no domingo, 20 de março, às 21h. Dirigida pelo aclamado diretor Jon Blair, a produção relata essa constante luta pelo poder por meio de entrevistas exclusivas: nelas, as então lideranças do tráfico, nomes como Tola e Aranha, aparecem sem máscaras ou filtros.
A narrativa da produção, filmada pouco antes das ocupações que visam a instalação de UPPs e o desmoronamento dessas lideranças paralelas, está focada em três pessoas emblemáticas: o chefe do tráfico, Juarez Mendes da Silva, o Aranha; o pastor evangélico Dione dos Santos, e o inspetor do esquadrão de combate às drogas, Leonardo Torres, o Trovão. De um lado a polícia, do outro as facções criminosas (ADA, Comando Vermelho e Terceiro Comando Puro) e, na mediação entre o lícito e o ilícito, a figura do pastor religioso.
Por meio de relatos das pessoas que compõem o núcleo destes três homens, como o do então mais temido traficante do Rio de Janeiro, Tola; passando pelas as sessões de exorcismo comandadas por Dione; e as declarações aterradoras dos homens que compõem o esquadrão comandado por Trovão, DANÇA COM O DIABO dá a dimensão desses conflitos em um retrato realista das estruturas de poder nos morros cariocas – pilares que seguiram sem abalos até o início do processo de pacificação e instalação das UPPs.
DANÇA COM O DIABO traz uma visão particular do diretor Jon Blair, na qual o maniqueísmo é descontruído em favor de uma reflexão sobre a complexidade dessas redes de influência: quando as dinâmicas do tráfico de drogas e a violência estão além do poder de ação do Estado, surgem territórios onde há a relativização das leis, do bem e do mal.
Por mais distintas que sejam as trajetórias destes três homens, cada um deles alega perseguir a mesma coisa: paz para as favelas e para as pessoas que nelas vivem. Dione tenta arrebanhar jovens da vida criminosa que vivera por meio do paternalismo religioso e de um centro de recuperação para rapazes que se feriram nos constantes embates entre grupos rivais. Trovão alega viver em uma guerra diária contra o tráfico – seus relatos mesclam o prazer e o medo que sente no exercício de sua função. Aranha afirma que procura a conversão para tornar-se um cristão fervoroso junto a Dione – enquanto não consegue, comanda o tráfico local e figura como um xerife simultaneamente apaziguador e violento.
Aranha foi morto em uma operação policial, ainda durante as filmagens. Tola foi preso. Dione continua seu trabalho no centro de recuperação e nos cultos. Trovão foi preso em fevereiro deste ano, acusado de negociar armamentos com o tráfico.
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