Contra senso comum, ilustrador Eloar Guazzelli defende valor literário dos quadrinhos


Em episódio inédito da série Super Libris, do SescTV, o autor assegura que HQs seduzam adultos enquanto literatura. Dia 6/8, segunda-feira, às 21h



Eloar Guazzelli. Foto: Piu Dip.

No final dos anos 1970, os quadrinhos se desprenderam das tirinhas de jornais e das revistas de Comics para servir de matéria a um novo gênero literário: a Graphic Novel, ou o romance gráfico. Para tratar da eclosão dessas narrativas híbridas, que combinam elementos verbais e visuais, o ilustrador, animador e quadrinista Eloar Guazzelli é entrevistado no episódioQuando as Palavras Voam em Balões, da série Super Libris. Dirigida pelo jornalista, escritor e cineasta José Roberto Torero, a produção é exibida pelo SescTV no dia6/8segunda-feira, às 21h. (Assista também em sesctv.org.br/aovivo).

Eloar Guazzelli nasceu em Vacaria (RS), em 1962. Formou-se em artes plásticas e consagrou-se criando quadrinhos e animações para o cinema. Hoje, acumula ilustrações em mais de 60 livros infantis e prêmios respeitáveis na área. Questionado se quadrinho também é literatura, Eloar ressalta que o gênero é fundamentalmente anárquico e avesso a essas definições. "Quando começaram a perguntar isso, o quadrinista não dava muita bola. Acho que a gente respondia de volta 'Tá perguntando por quê?".

Pelo senso comum, as histórias em quadrinhos são infantis, destinadas apenas a crianças. Mas, a partir do trabalho dos quadrinistas dos anos 1970, isso mudou. Eloar destaca, como exemplo dessa mudança, a publicação das tirinhas de Asterix e Obelix, dos franceses Albert Uderzo e René Goscinny. "O Asterix faz parte da reconstrução moral da França no pós-guerra!", exclama. "As pessoas não percebem isso".

No Brasil, os quadrinhos adultos existem desde o início do período do regime militar. Eloar destaca as publicações na revista Versus, que fazia parte da imprensa dissidente ao governo, chamada 'nanica'. Nela, entre tantos outros, apareceram os quadrinistas Luis Gê, Laerte e Angeli, cujos trabalhos, na opinião de Eloar, deveriam ser mais valorizados socialmente. "Eles removeram anos e anos de ditadura de dentro da casa das pessoas, no jeito de olhar e de conversar. Colocando palavrão e tirando do baú as coisas escondidas", ressalta.

Ao comparar a produção vigente no regime militar com a contemporânea, Eloar tenta apontar a tendência atual do universo dos quadrinhos, chamando atenção para a diversidade de vozes nas tirinhas. "Sempre teve mulheres geniais nos quadrinhos, mas era menos. Hoje tem muita mulher fazendo", comemora. Ele também lembra que o quadrinho foi fundamental para nossa modernidade, ao nos ter preparado para o hipertexto, consagrado na internet. "Sem a gente dar conta, a era da internet associa, o tempo todo, texto e imagem. E a gente aceitou essa mudança com naturalidade porque a gente já vinha sendo treinado. Ou seja, ponto para as histórias em quadrinhos", brinca.

Além da entrevista principal, Eloar Guazzelli participa de outros quadros no episódio Quando as Palavras Voam em Balões. Em Pé de Página, ele mostra o estúdio onde desenha, conta que, embora já tenha gostado de trabalhar de madrugada, hoje, com as demandas do seu filho, prefere se disciplinar para trabalhar logo cedo; além disso, explica que conta histórias para deixar uma marca que o faça superar a morte. No quadro Primeira Impressão, Eloar sugere a leitura de O Eternauta, clássico das histórias em quadrinhos de ficção científica dos argentinos Héctor G. Oesterheld e Francisco Solano López.

O quadro Orelhas, ainda, apresenta o perfil do escritor paulistano Valêncio Xavier, que usou a imagem como elemento fundamental de suas histórias. Em Prefácio, a mestre em Literatura Cristiane Tavares indica o livro Cumbe, uma história em quadrinhos infantil criada pelo premiado autor Marcelo D'Salete. No Quarta Capa, o youtuber Videl Carvalho comenta o livro Daytripper, de Fábio Moon e Gabriel Bá. Por fim, em Epígrafe, quadro novo da segunda temporada da série Super Libris, o próprio Eloar Guazzelli conta como adaptou o clássico de João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, para os quadrinhos.

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