Mauricio de Sousa Produções homenageia Eliane Potiguara


Representada por Jurema, a escritora indígena pioneira é reconhecida internacionalmente por seu impactante trabalho literário e a incansável defesa dos direitos dos povos originários

 

Com o objetivo de trazer visibilidade às mulheres notáveis para inspirar meninas e outras mulheres a buscarem seu espaço em áreas como artes, ciências, esportes e literatura, a escritora e poeta indígena Eliane Potiguara entra para o hall das homenageadas do projeto Donas da Rua da Turma da Mônica, com traços da personagem Jurema, por sua dedicada e incansável luta pela preservação da defesa dos povos indígenas.

 

A história de Eliane, assim como a dos povos indígenas, também foi formada por episódios difíceis. Nascida na cidade do Rio de Janeiro na década de 1950, a origem étnica potiguara veio dos avós nordestinos. Seu bisavô, o indígena potiguara Chico Solón de Souza, desapareceu por volta de 1920, na Paraíba. Nessa época, a região era destinada à plantação de algodão. Os indígenas que se opunham às condições impostas corriam o risco de serem assassinados e suas famílias, perseguidas. Após o desaparecimento, a família mudou-se para o estado do Rio de Janeiro (RJ). Na busca por preservar as tradições indígenas, Dona Lourdes, sua avó, dedicou-se a narrar a história do seu povo para os seus descendentes.

 

Foi por meio desses relatos que Eliane desenvolveu a paixão pela escrita. Durante seu processo de alfabetização, passou a ler e escrever as repostas das cartas que sua avó recebia, com total apoio das mulheres da família. A escritora iniciou no mundo literário para incentivar os indígenas a terem orgulho de sua própria identidade e cultura. Formada em Letras e Educação pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ela se especializou em Educação Ambiental pela UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e fundou a primeira organização de mulheres indígenas no Brasil: o GRUMIN.

 

Quando sua a avó faleceu, a poeta foi para o Nordeste para conhecer a verdadeira história de sua família. A força das suas ancestrais inspirou sua literatura, como mostra o poema O segredo das mulheres, que é dedicado a homenageá-las: "À amada tia Severina, índia Potyguara, grande anciã guerreira que muito me incentivou e me amou com a força da mulher indígena". O poema fala da importância da união: "No passado, nossas avós falavam forte/ Elas também lutavam/ Aí, chegou o homem branco mau/ Matador de índio/ E fez nossa avó calar/ E nosso pai e nosso avô a abaixarem a cabeça./ Um dia eles entenderam/ Que deviam se unir e ficar fortes/ E a partir daí eles lutaram/ Para defender sua terra e cultura./ Durante séculos/ As avós e as mães esconderam na barriga/ As histórias, as músicas, as crianças,/ As tradições da casa,/ O sentimento da terra onde nasceram,/ As histórias dos velhos/ Que se reuniram para fumar cachimbo./ Foi o maior segredo das avós e das mães./ Os homens, ao saberem do segredo,/ Ficaram mais fortes para o amor, lutaram/ E protegeram as mulheres./ Por isso, homens e mulheres juntos/ São fortes/ E fazem fortes os seus filhos/ Para defenderem o segredo das mulheres./ Pra que nunca mais aquele homem branco/ Mate a história do índio!".

 

Ao longo de sua carreira, Eliane publicou diversos livros, participou de coletâneas, além de criar o primeiro jornal indígena. O clássico A Terra é a Mãe do Índio, de 1989, aborda a cultura indígena e denuncia a violência contra os povos originários e foi premiado pelo Pen Club da Inglaterra. Com um olhar voltado também às causas femininas, Metade Cara, Metade Máscara, de 2004, traz crônicas e poesias sobre as experiências com as mulheres de sua família. Já em 2015, em A cura da Terra, Potiguara traz à tona a história de Moína, uma menina indígena que gosta de se aconchegar nos braços da avó para ouvir histórias

 

Com sua atuação voltada às causas indígenas, participou da elaboração da "Declaração Universal dos Direitos Indígenas" na ONU. A escritora foi ainda nomeada Embaixadora Universal da Paz em Genebra e indicada pelo Círculo Universal dos Embaixadores da Paz, da ONU, por defender a paz no mundo. Já em 2005, recebeu a indicação ao projeto Internacional "Mil mulheres ao Prêmio Nobel da Paz". Sua atuação também foi reconhecida pelo governo brasileiro, em 2014, por meio do título de "Ordem do Mérito Cultural", na classe "Cavaleiro", concedido em decorrência das contribuições prestadas à cultura do País. Em dezembro de 2021, recebeu o título de doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, o primeiro concedido a uma indígena.

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