Especial Verão da Lata revive a incrível história das milhares de latas recheadas de maconha que ‘atracaram’ em praias brasileiras
Poucos verões são tão memoráveis a ponto de merecerem um nome próprio. O verão brasileiro de 1987-1988, porém, ganhou o apelido de "Verão da Lata" depois que nada menos do que 22 toneladas de maconha foram despejadas no nosso litoral, a bordo de latas de metal hermeticamente fechadas, atingindo praias que iam do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul.
As latas, similares às de leite em pó, começaram a invadir principalmente as praias do Rio e de São Paulo, desencadeando uma série de eventos econômicos, comportamentais e criminais surpreendentes. O especial Verão da Lata, que estreia noHISTORY em 6/12, foi a fundo na investigação do caso e revelou informações importantes e nunca antes explicadas sobre essa história. Dessa maneira, revive o "acontecimento" que foi esse verão, com um riquíssimo material de arquivo e depoimentos de figuras-chave do episódio, de investigadores de polícia e agentes do órgão norte-americano DEA (Drug Enforcement Administration) a personalidades como Perfeito Fortuna, Fausto Fawcett, Eduardo Bueno, Marina Person, Taciana Barros, Lawrence Whaba, Bia Abramo, Lobão, Roger Moreira e a cantora Fernanda Abreu, que alguns anos depois lançou o hit Veneno da Lata, inspirado no episódio e que popularizou a gíria nascida naquele período: "da lata" é até hoje sinônimo para algo "muito bom", "excelente".
Dirigido por Tocha Alves e Haná Vaisman e produzido pela Suju Filmes, Verão da Lata busca reviver, com carinho e nostalgia, esse episódio único, cujos primeiros registros datam de setembro de 1987. Na ocasião, as latas começaram a ser encontradas boiando no Guarujá (SP), primeiro por pescadores e depois por velejadores, surfistas e frequentadores das praias. Ao abrirem as peças, lacradas de forma industrial, e verem o seu conteúdo, os pescadores se assustaram e levaram a "surpresa" à polícia – cada uma continha cerca de 1,5 kg de maconha da mais alta qualidade. E mais latas começaram a aparecer em outras praias, a maioria no litoral norte de São Paulo, para a alegria e a curtição dos jovens da época.
O carregamento havia saído de um pequeno navio chamado Solana Star, que vinha da Tailândia e estava na costa do Rio de Janeiro esperando para repassar a maconha a outros dois barcos, cujo destino era Miami. A polícia brasileira, porém, recebeu do DEA – o órgão de combate ao tráfico de drogas dos Estados Unidos, criado no início dos anos 1980 – um aviso de que um navio carregado de maconha estaria passando pelo litoral do Brasil, e pediu ajuda à Marinha para localizar a embarcação. Mas a missão foi deixada de lado após algumas buscas sem sucesso.
O Solana Star só não foi pego porque a viagem da Tailândia atrasou alguns dias, mas, quando o barco se aproximava da costa brasileira, um tripulante percebeu que havia uma fragata da Marinha fazendo buscas e, num ato de desespero, o carregamento de mais ou menos 15 mil latas foi lançado ao mar.
Após se livrar das latas, a tripulação do Solana Star pediu autorização para entrar com o navio no porto do RJ, a fim de realizar reparos no motor. O barco atracou e quase todos os integrantes, com exceção do cozinheiro Stephen Skelton, deixaram o Brasil nos dias seguintes. Em função disso, quando a polícia reconheceu o Solana como o barco que estava sendo procurado, apenas Skelton, que ainda estava no Rio, foi preso – e o especial conta o motivo de ele ter dado uma "esticada" no País.
O cozinheiro foi condenado a 20 anos de prisão em regime fechado, mas ficou detido por apenas um ano. Não havia como provar sua relação com as latas encontradas no litoral, e a quantidade de maconha achada dentro do barco era ínfima. Já o responsável pelo comando da operação foi preso em Miami na véspera de viajar ao Brasil. As milhares de latas encontradas pela população, porém, deixaram saudade e são lembradas até hoje – estima-se que, das 22 toneladas soltas ao mar, apenas 3,5 foram apreendidas pela polícia. Já o restante delas...
Imagens raras, documentos inéditos e depoimentos do especial contextualizam o clima social e político da época, marcada pela transição da abertura política, a inflação alta e os Fiscais do Sarney. Havia uma excitação no ar, e estavam em seu auge as bandas brasileiras que haviam surgido no início da década e marcaram o rock brasileiro e toda uma geração. Para os jovens dessa época, que viviam um reflexo da geração pós-hippie, o "verão da lata" foi um período abençoado, "presente divino, dos céus", mas que chegou pelo mar.
Reprises do especial: 7/12, domingo, à 1h30 e às 9h45
Ficha técnica
Direção: Tocha Alves e Haná Vaisman
Produção: Suju Filmes - Tocha Alves, Ricardo Ortiz de Siqueira e Claudia Büschel
Roteiro: Haná Vaisman
Direção de Fotografia: Ricardo Ortiz de Siqueira
Montagem: Leon Mosditchian e Mauro Moreira
Animações: MOL TOONS
Trilha Sonora Original: Rica Amabis e Tejo Damasceno
Desenho de Som e Mixagem: Miriam Biderman, ABC e Ricardo Reis
Som Direto: Tiago Bittencourt e JP Fonseca
Produção Executiva: Claudia Büschel
Depoimentos: Fernanda Abreu, Roger Moreira, Lobão, Taciana Barros, João Avelleira, Perfeito Fortuna, Marina Person, Lawrence Whaba, Eduardo Bueno – o Peninha, Fausto Fawcett, Rui Mendes, Sidney Luiz Tenucci Jr. – o Sidão, Carlos Motta, Antonio Carlos Rayol, Bia Abramo, Carlos Mandim, Wanderley Rebello Filho, Joseph Urbaniak e Geovanni Barros de Azevedo, entre outros.
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