Ana Maria Machado, representante da literatura infantil, fala sobre o legado deixado pela obra de Monteiro Lobato às novas gerações de escritores
Em episódio inédito da 2ª temporada da série Super Libris, do SescTV, a escritora brasileira depõe sobre a representatividade feminina da personagem Emília. Dia 2/7, às 21h
Ana Maria Machado. Foto: Piu Dip.
As histórias infantis escritas por Ana Maria Machado estão povoadas de meninas astutas que, pelos trejeitos, devem ter parentesco com a personagem Emília, uma boneca de pano criada em 1920, por Monteiro Lobato (1882-1948). "Eu gostaria de ser uma filha de Emília, me sinto muito próximo a ela", diz a escritora. Para falar sobre a influência da obra de Lobato e a representatividade da boneca de pano, no universo feminino, a autora Ana Maria Machado é a entrevistada do episódio As Filhas de Emília: Meninas Atrevidas da Literatura Infantil, da série Super Libris, dirigida pelo escritor, cineasta e jornalista José Roberto Torero. A produção será exibida no dia 2/7, segunda-feira, às 21h, pelo SescTV. (Assista também em sesctv.org.br/aovivo.)
Segundo Ana Maria, Emília traz à cena um novo tipo de menina, que marcou a literatura brasileira por sua irreverência e independência. "Ela é uma mistura de observação, memória, reflexão e imaginação sobre o mundo que a cerca. Como se captasse a essência dos que estão a sua volta", afirma a escritora, que ganhou seu primeiro livro, Reinações de Narizinho, escrito por Lobato, aos seis anos de idade. A partir daí, Ana Maria leu toda a obra do escritor.
Embora reconheça a genialidade de Lobato, Ana Maria entende que há algumas lacunas na carreira do autor que, ao mesmo tempo, possuía visões claras sobre o papel da mulher e as questões políticas e ambientais brasileiras, não foi sensível a outros assuntos. Isso porque, de acordo com a escritora, ele era atrelado aos preconceitos da sociedade em que vivia. "Militante libertário, Monteiro Lobato não percebeu a questão da abolição, ainda recente, tão pouco a incerteza com relação ao futuro dos descendentes de escravos", explica Ana Maria.
Ana Maria Machado nasceu em Santa Tereza, Rio de Janeiro, no ano de 1941. Foi aluna do Museu de Arte Moderna. Iniciou sua carreira artística como pintora, participando de exposições individuais e coletivas. Após se formar em letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, decidiu abandonar a carreira de pintora e se dedicar aos livros. A escritora foi exilada pelo regime militar nos anos 1960. "Alguns estudos apontam que por causa do regime, artistas e criadores canalizaram suas obras para o universo infantil", afirma Ana Maria. Ao retornar para o Brasil, em 1970, ela voltou a escrever livros para crianças.
Em 1977, a autora ganhou o Prêmio João de Barro pelo livro História Meio ao Contrário. Dois anos depois, fundou a primeira livraria dedicada a publicações infantis no Brasil. Entre todas as conquistas que obteve em sua carreira, cabe destacar que Ana Maria foi a primeira escritora desse gênero a fazer parte da Academia Brasileira de Letras.
Além da entrevista principal, Ana Maria Machado participa de outros quadros no episódio As Filhas de Emília: Meninas Atrevidas da Literatura Infantil. Em Pé de Página, ela explica seu processo de criação e sua necessidade de começar a escrever no período da manhã, para ter a sensação de continuidade em sua obra. No quadro Primeira Impressão, a autora diz que não acredita em dica sobre leitura. Ela entende que o ato de ler acontece de acordo com a curiosidade, que influencia na descoberta dos personagens e leitura durante a vida.
Ainda no episódio, o quadro Orelhas apresenta curiosidades sobre Monteiro Lobato. Em Prefácio, a editora Dolores Prates indica o livro infantil a Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga, ilustrado por Marie Louise Nery. No quadro Quarta Capa, a cineasta Márcia Bodanzky compara a concepção da personagem Madame Bovary, de Gustav Flaubert, a Emília de Monteiro Lobato. Epígrafe, quadro novo da segunda temporada do Super Libris, convida o dramaturgo Marcelo Montenegro, escritor e roteirista da série animada Sítio do Pica-Pau Amarelo, para falar sobre sua experiência ao adaptar a obra de Monteiro Lobato.
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