Jack Bender, diretor de ‘Lost’, abre o RioContentMarket

EYNOTES, PAINÉIS E APRESENTAÇÕES MARCARAM ESSE PRIMEIRO DIA DE EVENTO, QUE CONTOU AINDA COM A PRESENÇA DA ATRIZ DE 'SMALLVILLE', ALLISON MACK

Em uma das palestras mais concorridas da segunda edição do RioContentMarket, com mediação da diretora e roteirista Anna Muylaert, Jack Bender mostrou como diferentes tipos de artes podem se cruzar durante o processo criativo. Com uma tela, tintas e pincéis ao seu dispor, o produtor e diretor de sucessos da TV americana, como as séries "Alias", "Lost" e "Alcatraz", pintou um quadro diante da plateia, enquanto narrava detalhes dos bastidores das produções. Bem-humorado, Bender lembrou de sua infância em Los Angeles e de como as antigas aulas de pintura foram fundamentais para o sucesso no audiovisual.

"A Los Angeles dos anos 60 era um ótimo lugar para um garoto crescer. Ouvia Beatles, andava de bicicleta e começava a ter aulas de artes. Assim me formei como um artista visual, que vive num mundo visual", recordou Bender. "Às vezes penso: o que faço no mundo? Sou um contador de histórias, gosto de contar histórias. Stanley Kubrick citava o mito de Ícaro para falar do ofício do artista. A lição que ele nos deixou é que não devíamos ter medo de voar perto demais do sol, mas sim criar asas melhores, para que a cera delas não derretesse".

De pé junto à tela, o diretor e produtor pintou um garoto de longos braços, tendo ao fundo o Cristo Redentor e um sol feito com círculos, o que o fez lembrar de um enigmático quadro seu, com três círculos roxos, que aparecia em "Lost". "As pessoas debatiam o significado daquilo, um dia eu vi uma explicação que roxo é a cor da cura. Então me lembrei do dia em que pintei a tela, e que só havia tinta roxa para usar, por isso o quadro foi pintado assim", diverte-se. "Mas isso foi maravilhoso, vi que criei uma coisa sobre a qual não tinha mais controle. Foi como uma mensagem numa garrafa atirada ao mar, não se pode controlar como será lida e quem vai lê-la, de fato".

A "garrafa" atirada por Bender conseguiu ir muito além do esperado graças à internet e aos inúmeros fóruns que se formaram para debater "Lost", como reconhece o produtor. "'Lost' foi a primeira série de TV de sucesso da era digital. Sem a internet a série não teria tamanho sucesso. Tivemos sorte de ser o programa certo no momento certo. Vivemos um período extraordinário, onde todos podem contar suas histórias, independente do meio. A frase de Andy Worhol, de que todos serão famosos por 15 minutos, é cada vez mais atual, exceto pelo tempo: agora serão apenas 15 segundos de fama", diverte-se.

Bender falou ainda sobre seu novo projeto, "Alcatraz", série que cria uma versão alternativa para o fechamento da prisão de segurança máxima americana, em 1963: o desaparecimento súbito de todos os seus detentos e guardas, que voltam a surgir misteriosamente em São Francisco décadas depois. "O trio de autores levou a ideia para J.J. Abrams e para mim, e na hora pensamos: 'Por que ninguém nunca fez uma série sobre Alcatraz antes?'.  Estamos muito orgulhosos da série, espero que seja bem-sucedida também".

Questões fundamentais para a produção nacional foram debatidas no painel "A Economia do Audiovisual Brasileiro". Na mesa, mediada pelo presidente da ABPITV (Associação Brasileira de Produtores Independentes de Televisão) Marco Altberg, estavam a secretária do Audiovisual do Ministério da Cultura, Ana Paula Santana; a chefe do Departamento de Cultura, Entretenimento e Turismo do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), Luciane Gorgulho; o diretor da Agência Brasileira de Promoção e Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Rogério Bellini; e o diretor-presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Nelson Breve.

Rogério Bellini destacou a importância do trabalho de internacionalização da produção, e de como a parceria com empresas estrangeiras consolidou o trabalho de produtoras nacionais no mercado, citando o exemplo de sucesso de animações brasileiras como "Peixonauta" e "Meu Amigãozão". "O aumento das adesões é significativo, se reflete no crescimento do mercado. A imagem do Brasil no exterior hoje é muito favorável, e a economia criativa é um dos setores que mais consegue se beneficiar com este fato".

Nelson Breve salientou que este pode ser o momento da virada para o audiovisual brasileiro, por conta das inovações tecnológicas que estamos vivenciando. "Precisamos de novos modelos de negócios para aproveitar esta oportunidade. Mudanças tecnológicas como a da TV digital são fundamentais para quem está atrás conseguir dar um grande salto. Temos que olhar o futuro sem perder o passo do presente. Produzir audiovisual hoje sem pensar em conteúdo transmídia é produzir com a cabeça no século XX."

Ana Paula Santana salientou a importância da lei 12.485, que regulamenta a exibição de produções independentes brasileiras nos canais de TV a cabo, para o crescimento do mercado no Brasil. E de como o governo pode fomentar ainda mais a produção com iniciativas como a inclusão do audiovisual no Plano Brasil Maior, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. "Estas ações fazem parte do reconhecimento do audiovisual como um setor estratégico para o Estado, e é este o caminho que o Minc deve seguir. O audiovisual movimenta o mercado cultural como um todo, além de agregar valor ao produto nacional".

Por fim, Luciane Gorgulho destacou o crescimento dos apoios do BNDES à produção audiovisual, que começou com processos de editais e hoje conta com diferentes linhas de crédito. "O audiovisual passou a ser tratado com o mesmo status dos setores tradicionalmente apoiados pelo banco".

Logo após o encerramento do painel, a Apex-Brasil e a ABPITV renovaram o convênio do programa Brazilian TV Producers (BTVP), que irá destinar R$ 5 milhões para a realização de ações promocionais no exterior. Marco Altberg, Rogério Bellini e Nelson Breve celebraram a renovação do convênio. "Toda vez que promovemos a internacionalização do setor audiovisual trazemos ganhos para o país, demos grandes saltos em poucos anos", ressaltou Bellini.

A sala 2 é o local de exposição dos canais, nas apresentações de meia e uma hora. As redes A&E OLE, Viacom, Turner e Discovery; e os canais Universal Channel, da Globosat, e TV Brasil mostraram seus cases de sucesso. Roberto Matha, diretor de produção da Viacom, ressaltou que a maioria das atrações do canal de música e entretenimento VH1 são frutos de coprodução. Alguns lançamentos para 2012 são: "Tropicália", "Cássia" e "Raul, o Início, o Fim e o Meio", este último com estreia prevista ainda para março. Roberto, Jimmy Leroy e Tatiana Rodriguez, executivos da Nickelodeon América Latina, comentaram também sobre o novo canal de comédia Comedy Central e o infantil Nickelodeon, além da adaptação com a nova regulamentação audiovisual. "Faremos uma estratégia a longo prazo. Nesse primeiro momento estamos no período de transição, até adaptarmos a grade precisamos de um tempo de implantação. Apesar de gradual, três meses ainda é um período curto, porém vamos traçar um plano definitivo nos próximos dias", conta Roberto.

O diretor do Universal Channel, Paulo Barata, explanou em meia hora o desafio do canal de exibir conteúdo nacional para se adaptar à nova lei. Ele disse que não pretende repetir os modelos das séries internacionais, como "House" e "SVU". "Vamos investir no tema bastidores, como já fazemos com o 'What's On'. Teremos em parceria com a Zoar o 'What's Off' e com a 2DLab, o 'Corta!'", diz Paulo, que exibiu pela primeira vez o conteúdo teste dos dois programas pilotos.

Já Anthony Doyle, vice-presidente da Turner, ao lado de outros executivos da rede, falou sobre o foco e o conteúdo diferenciado de alguns canais (Space, TCM, Boomerang, Tru TV, TBS, Glitz, TNT, Cartoon Network e Infinito).

Na parte da tarde, o painel "Conteúdo on Demand" tratou de novos paradigmas do marcado, como as convivências entre múltiplas plataformas e as estratégias para aquisição de conteúdo para os diferentes meios.  Com mediação de Fábio Lima, diretor executivo da Mobz; Fernando Magalhães, diretor de Programação Net/Now; Jason Ropell, vice-presidente de Conteúdo da NetFlix; e Pedro Rolla, diretor de Programação do Terra TV, analisaram as novas possibilidades do mercado e de como os espectadores passam a acessar o conteúdo, seja na TV a cabo, no computador ou on demand via TV digital.

Esse primeiro dia do evento contou ainda com os painéis "Inovação, Tecnologia e Futuro", "Conteúdo e Conglomerados de Mídia", "Rio em Foco" – com a presença de Adriana Rattes, secretária de Cultura do Estado do Rio; Sergio Sá Leitão, presidente RioFilme; Marcelo Haddad, diretor executivo Rio Negócios –, "Nextmedia: as maiores previsões digitais", "Twitter: uma via de apoio à televisão?", "UK apresenta", "França apresenta...", "Argentina apresenta... lei de meios", "Como se relacionar com os fãs – que contou com a participação da atriz do seriado "Smallville", Allison Mack –, "Conteúdos customizados", "Financiamento e distribuição internacional" e o keynote "O entretenimento no mundo conectado".


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