Lidia Lisbôa abre a exposição "Mulher Esqueleto" dentro do projeto Ofício: Fio do Sesc Pompeia
Em mostra inédita, que abre à visitação no dia 29 de abril, a artista paranaense apresenta conjunto de trabalhos com dimensão política e social à medida que faz despontar uma perspectiva crítica de gênero
Sem título, da série Tetas que deram de mamar ao mundo, 2020. Foto: Filipe Berndt
Crochê em tecido. Dimensões: 185 x 183 x 114 cm
Link para imagens: https://www.flickr.com/photos/a4eholofotecultura/albums/72177720307095681
Vida e arte se entrelaçam nas propostas de Lidia Lisbôa, que tece casulos, úteros, cordões umbilicais e tetas na mostra Mulher Esqueleto, no Sesc Pompeia, a partir de 29 de abril. Inédita, a exposição fica aberta até 30 de julho e integra o projeto Ofício: Fio, uma iniciativa que explora como espaço expositivo o Galpão das Oficinas de Criatividade do Sesc Pompeia, e que tem o propósito de apresentar e investigar diferentes práticas do fazer artístico.
Lidia Lisbôa trabalha com escultura, gravura, pintura, costura e crochê. Sua prática artística desenvolve-se na intersecção entre objeto de arte, performance e ritual. Cada passo dado na construção de sua poética aponta para um desdobramento na forma de ação performativa. A produção de peças têxteis em performances elabora o ato de tecer como prática e reflexão. O uso do tecido e materiais descartados constitui uma estrutura fundamental na eloquência de sua linguagem, que aborda presente e passado por meio de temáticas autobiográficas, territoriais e ancestrais. Este elo acaba por sublevar o trabalho da artista a um campo de ação política e social à medida que faz despontar uma perspectiva crítica de gênero. Sua expressividade manual é, assim, embebida de uma complexidade que se mostra tanto como poética sensível quanto um ato de resistência.
Em Mulher Esqueleto, a artista apresenta trabalhos de vários períodos, incluindo inéditos, e usa como fio condutor o capítulo de mesmo título da mostra que compõe o livro de Clarissa Pinkola Estés, Mulheres que correm com os lobos. Na obra literária, uma figura amaldiçoada e deixada à própria sorte é pescada e acolhida por um pescador, deixando, nesse processo, de ser um punhado de ossos e se tornando mulher. No contexto do livro, é o amor que restitui a possibilidade de reintegração da personagem. Lídia Lisbôa, ao se aproximar da Mulher Esqueleto, reflete sobre a possibilidade de recompor a si mesma, estruturando no processo de recolhimento a reestruturação do self, e não as relações. Lisbôa constrói um repertório de acolhimento primário e recolhimento contemplativo como ferramenta de cura. A vida-morte-vida de Estés, quando encontra o olhar e as mãos de Lidia Lisbôa, torna-se vida-arte-vida.
O grande destaque da mostra está na área têxtil. Mesmo em outras matérias, como cerâmica, fotografia e performance, a obra da artista traz, em todos os suportes, o processo têxtil ao trabalho, convidando o público a esse recolhimento reestruturante de carnes para que lembremos de não deixarmos morrer.
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