MASP APRESENTA SEMINÁRIO SOBRE A OBRA DO ARTISTA BRITÂNICO FRANCIS BACON


Com uma abordagem contemporânea, destacando elementos queer na produção do artista, o seminário antecipa a grande exposição dedicada à sua obra no MASP em 2024
 


Helmar Lerski, Francis Bacon, 1929-30, © Estate Helmar Lerski, Museum Folkwang, Essen, 2017, cortesia de Francis Bacon MB Art Foundation Monaco/MB Art Collection

 

MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, apresenta, no dia 11 de maio de 2023, o seminário Francis Bacon: a beleza da carne, antecipando a exposição do MASP dedicada ao artista no ano de 2024, como parte de um programa anual inteiramente voltado às Histórias da diversidade [Queer Histories]. Online e gratuito, o seminário visa refletir sobre a obra do artista britânico Francis Bacon (1909-1992), adotando uma abordagem inovadora ao destacar os elementos queer tanto em sua produção artística como em sua vida pessoal. Boa parte da crítica e da história da arte canônica não abordou esses aspectos que permeiam suas pinturas, evitando controvérsias sobre sua sexualidade.

 

Com uma perspectiva contemporânea da obra do artista, o grupo de curadores, historiadores, escritores e pesquisadores reunidos para este seminário abordará as diferentes formas por meio das quais Bacon abriu caminho para a presença queer na cultura visual ocidental. Fazem parte do programa palestrantes de distintas áreas de conhecimento: Dominic Janes, Gregory Salter, Michael Peppiatt, Paulo Herkenhoff, Richard Hornsey, Rina Arya e Simon Ofield-Kerr.

 

O encontro será transmitido por meio do perfil do MASP no YouTube, com tradução simultânea para Libras, português e inglês. Para receber o certificado de participação, é necessário realizar um cadastro por meio de um link que será fornecido durante o seminário. Os certificados serão enviados ao e-mail dos participantes que assinarem o formulário na segunda parte do encontro, a partir das 13h30.

 

A iniciativa tem organização de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Fernando Oliva, curador, MASP e Laura Cosendey, curadora assistente, MASP.


 

PROGRAMAÇÃO

 

Quinta-feira, 11.5.2023
 

10H30
 

INTRODUÇÃO

Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP


 

10H40—12H
 

SIMON OFIELD-KERR

Enfrentando Francis Bacon, mais uma vez!

Os interesses de pesquisa de Simon Ofield-Kerr concentram-se em relações entre práticas, prazeres e identidades sociais/sexuais nas culturas visuais e literárias. Nesta palestra, Ofield-Kerr continua a enfrentar a obra de Francis Bacon, em especial sua pintura Two Figures [Duas figuras] (1953), abordando-a por meio de um arquivo de textos escritos e visuais populares e banais relacionados à práticas e prazeres sociais/sexuais que, na década de 1950, eram cada vez mais identificados, na imprensa popular, como "queer". Propõe-se que Two Figures seja vista dentro de uma história de encontros sociais e sexuais entre homens, orquestrados pelas diferenças de classe e influenciados por uma economia sexual e visual do modernismo alemão da década de 1930. A palestra discute como essa economia é popularizada e reapresentada nas páginas de revistas britânicas e estadunidenses de fisiculturismo, forma física e luta livre da década de 1950, e como os anúncios publicitários nessas publicações fornecem um contexto popular para compreender a pintura de Bacon.
 

Simon Ofield-Kerr é reitor da Norwich University of the Arts. Ofield-Kerr estudou Belas Artes no Exeter College of Art and Design, fez mestrado em História Social da Arte e doutorado na University of Leeds, no Reino Unido. Iniciou sua carreira acadêmica na Leeds e passou por diversos cargos de liderança na Middlesex University e na Kingston University, onde foi diretor executivo da Faculdade de Arte, Design e Arquitetura.
 

GREGORY SALTER

Francis Bacon e a experiência queer além da Grã-Bretanha na década de 1950

Na década de 1950, Francis Bacon fez várias viagens a Tânger, no Marrocos, em parte para acompanhar Peter Lacy, seu amante na época. As poucas pinturas produzidas no Marrocos (ou que, de alguma maneira, fazem referência ao país) que sobreviveram foram pouco exploradas nos estudos sobre Bacon. Ao mesmo tempo, o Marrocos, e principalmente Tânger, havia se tornado um espaço que atraía turistas e personalidades culturais queer nos anos pós-guerra. Esta palestra baseia-se em pesquisas realizadas sobre a relação entre a arte de Bacon e contextos queer na Grã-Bretanha, e questiona como essas histórias podem ser ampliadas com a atenção voltada aos espaços fora do país visitados por homens homossexuais britânicos. A partir de pinturas do período no Marrocos, como Man Carrying a Child [Homem carregando uma criança] (1956), e Landscape Near Malabata, Tangier [Paisagem próxima a Malabata, Tânger] (1963), Salter argumenta que espaços internacionais como Tânger foram cruciais para a negociação e articulação de Bacon sobre a experiência queer nos anos pós-guerra.

 

Gregory Salter é professor de História da Arte na University of Birmingham. Publicou o livro Art And Masculinity In Post-War Britain: Reconstructing Home [Arte e masculinidade na Grã-Bretanha pós-guerra: reconstruindo o lar] (2019). Atualmente, desenvolve um projeto de pesquisa que trata de histórias transnacionais de arte queer britânica entre 1957 e 1988.
 

Mediação:

Fernando Oliva, curador, MASP
 

13H30—15H

 

RICHARD HORNSEY

As cabeças de Bacon e a fragmentação do rosto masculino homossexual na Grã-Bretanha pós-guerra

A palestra trata a série Heads, obras de Bacon com cabeças "diluídas", como uma resposta estética à posição sociopolítica queer na Grã-Bretanha pós-guerra. No início da década de 1950, a crescente vigilância policial tornou a ocupação de espaços públicos cada vez mais frágil para homens homossexuais. Enfrentando problemas de revelação e prova, as autoridades jurídicas desenvolveram um conjunto de clichês homossexuais visíveis (gestos, expressões faciais, uso de maquiagem) que era usado nos tribunais como prova do desejo na superfície do corpo de um suspeito. Ao mesmo tempo, ativistas pela descriminação alegavam que os homens homossexuais eram cidadãos legítimos precisamente porque a sexualidade deles era invisível, banindo, assim, aqueles que não conseguiam (ou se recusavam a) passar despercebidos no espaço público. As cabeças de Bacon no início do pós-guerra repercutem esse momento, interagindo com as estruturas do retrato pictórico do estado cotidiano. Por fim, argumenta-se que as cabeças de Bacon, diluídas e fragmentadas, exploravam a contradição da tentativa de ocupar o espaço público pós-guerra tanto como um homem homossexual quanto um cidadão legítimo.
 

Richard Hornsey é professor associado em História Britânica Moderna na University of Nottingham, no Reino Unido. Publicou The Spiv and the Architect: Unruly Life in Postwar London [O vigarista e o arquiteto: a vida desregrada na Londres pós-guerra] (University of Minnesota Press, 2010). Seu trabalho mais recente investigou o impacto da produção em massa na cultura britânica entre guerras, tema de seu próximo livro.
 

DOMINIC JANES

Bacon, corpos musculosos e a cultura material erótica

Hoje em dia, reconhece-se amplamente que Francis Bacon não só era um homem homossexual interessado em BDSM, como também que sua sexualidade desempenhou um importante papel em sua arte. Esse reconhecimento, no entanto, ainda o posiciona em um conjunto de categorias identitárias familiares e deixa de lançar luz nas particularidades de sua imaginação erótica. Com isso em mente, a palestra explora as complexas formas em que o erotismo e a cultura material interagem na vida e nas pinturas de Bacon. Essa abordagem se baseia nas primeiras definições históricas que tratavam da sodomia como transgressões físicas de alcance muito mais amplo do que apenas sexo anal. Ela revisita as imagens homoeróticas da metade do século 20 de maneiras que perturbam os conceitos binários de humano e animal, carne humana e carne animal, sujeito e objeto, que serviam para demarcar a normatividade heterossexual e homossexual ao longo da vida do artista.
 

Dominic Janes é professor titular de História Moderna na Keele University e Professorial Fellow na University for the Creative Arts. Historiador cultural, estuda textos e imagens visuais relacionados à Grã-Bretanha nos contextos local e internacional a partir do século 18. Nessa esfera, ele se concentra nas histórias de gênero, sexualidade e religião.
 

Mediação:

Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP
 

15H—16H30

 

RINA ARYA

Queerizando a obra: um olhar contemporâneo sobre Bacon

Bacon era um pintor audacioso que retratava o esplendor cru do corpo masculino. Pintando numa época em que a homossexualidade era criminalizada, Bacon retratava o desejo homoafetivo de várias formas, fosse furtivamente, por meio de cópulas frenéticas, de alguma maneira veladas, ou pelo olhar homoerótico. Afastando-se dessa perspectiva e adotando-se uma lente contemporânea, pode-se entender que Bacon comentasse de forma mais ampla sobre o que agora entendemos como queer, um termo interpretado como uma ofuscação ou ambiguidade sobre categorias. De muitas maneiras, suas representações são sobre o corpo em desejo pulsante, voltando à vida, despedaçando-se e dissolvendo-se em névoa etérica. Esta palestra considera os corpos de Bacon como queer, no sentido de transitar entre gêneros e sexualidades, mais desejosos, vitais, porém profundamente vulneráveis.
 

Rina Arya é professora titular de Cultura e Teoria Visual na University of Huddersfield. Nos últimos quinze anos, tem produzido inúmeros textos sobre as pinturas de Francis Bacon, com particular interesse nas perspectivas teóricas da obra do artista. Escreveu sobre as expressões de homossexualidade de Bacon, os aspectos religiosos de suas pinturas e as formas como tempo e espaço são mapeados em sua obra.
 

PAULO HERKENHOFF

Francis Bacon e a carne viva da pintura

Se recorrermos ao aforismo de Paul Éluard, retomado por Maurice Merleau-Ponty em O olho e o espírito, de que todo pintor empresta seu corpo à pintura, então cabe indagar qual corpo é emprestado por Francis Bacon a sua arte. É um corpo dilacerado pela voracidade do seu desejo homoafetivo, tragado por algum problema físico-anatômico do Outro. Assim, Bacon é um Merleau-Ponty desesperado com as vísceras expostas, como no quadro de Rembrandt A lição de anatomia do doutor Nicolaes Tulp (1632). Bacon pode ser considerado um "antropofágico" na dimensão da cultura brasileira do Manifesto Antropófago (1928) do poeta Oswald de Andrade. "Só me interessa o que não é meu." Só me interessa a carne do outro. Louise Bourgeois nutria uma paixão canibal por Bacon. No entanto, o Bacon que mais se aproxima do páthos antropofágico pode ser pensado por meio do transgressivo artista brasileiro Artur Barrio, porque ambos são artistas da carne selvagem e simultaneamente filosófica.

 

Paulo Herkenhoff foi curador da XXIV Bienal de São Paulo, dedicada à autonomia da arte brasileira com a problematização da antropofagia (1998), da qual fez parte a obra de Francis Bacon; professor catedrático no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) (2019) e agraciado com a Grã-Cruz do Mérito Cultural (2015).

 

Mediação:

Matheus de Andrade, assistente curatorial, MASP

 

16H30—17H30

 

Conversa com MICHAEL PEPPIATT

Francis Bacon: em seu sangue

Michael Peppiatt conheceu Francis Bacon em junho de 1963, na French House, no Soho, ao requisitar uma entrevista do artista à revista estudantil da qual era editor. Bacon o convidou para um almoço, eles iniciaram uma amizade e um diálogo sem limitações que perdurariam até a morte de Bacon, trinta anos depois. Fascinado pelo brilhantismo e pelo carisma do artista, Michael o acompanhava em seu giro noturno, regado a álcool entre hotéis, clubes decadentes e cassinos, observando todos os aspectos da "vida glamorosa e vulgar" de Bacon e conhecendo todos à volta dele. Ele também costumava discutir pintura com Bacon em seu estúdio, onde apenas os amigos mais próximos do artista tinham permissão de entrar. Apesar do caos que Bacon criou ao seu redor, Michael conseguiu registrar muitas de suas conversas, que tratavam de todos os aspectos da vida e da arte, do amor e da morte, do que era revelador e hilário, bem como do que era comoventemente trágico.
 

Michael Peppiatt é membro da Society of Authors e da Royal Society of Literature. Foi curador de inúmeras exposições, especialmente retrospectivas de Francis Bacon e Alberto Giacometti na Europa e nos Estados Unidos.
 

Mediação:

Laura Cosendey, curadora assistente, MASP
 

SERVIÇO
 

Seminário Francis Bacon: a beleza da carne

Organização: MASP

Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Fernando Oliva, curador, MASP; e Laura Cosendey, curadora assistente, MASP.

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